O topete do Fernando

Há uma aparente calma no país. A calmaria do olho do furacão. Depois da crise - tanto anunciada e sempre desmentida - do dólar, o governo se arrasta sobre as mentiras que o ano eleitoral de 1998 deixou no ar. O discurso do antigo presidente, cujo primeiro mandato teve como grande conquista o segundo mandato, era que a inflação tinha sido debelada. Agora, dizia ele, com sua reeleição, seria resolvido o problema do desemprego. Apesar do semblante do Fernando, transparecendo honestidade, era tudo papo de político em véspera de eleição. O real ruiu, o dólar disparou e a inflação aquece os motores para nos atropelar. Em compensação, o desemprego bate novos recordes, com 1,5 milhões de desempregados na Grande São Paulo. Foi tudo um grande engodo. Vejam que não é apenas um revoltado de Polemikos quem diz isso. Mino, o Carta Capital, em editorial de 3 de fevereiro, resume: "O naufrágio do real representa a mais clamorosa e ostensiva fraude eleitoral da história republicana ... ". FHC gastou bilhões de dólares das reservas brasileiras para manter o real por mais alguns meses, se elegeu e, duas semanas depois de tomar posse, declara "foi mal!", o dólar vai a R$2,00, a inflação já está maior que 3% e o que arde é o nosso. Duas hipóteses são razoáveis: má fé política ou incompetência. Em ambos os casos o presidente teria bons motivos para pedir o boné ou perder a cabeça.

O teatro de comédia nacional conta hoje com um coadjuvante de primeira linha para FHC: o governador, ex-presidente e, tudo leva a crer, desejoso de ser presidente novamente Itamar Franco. Depois de ser o estopim para a crise do dólar, da qual não se pode dizer que tenha culpa, Itamar assumiu o vácuo da oposição e partiu para o enfrentamento ao governo federal. O problema é que o jeito Itamar de aparecer tende a ser mais útil do que prejudicial ao presidente. Num momento em que Fernando Henrique, como que empolgado com o carnaval, vai se despindo de suas promessas, desnudo como a mulata globeleza, Itamar aparece por fora, apresentando uma coreografia exagerada, nos moldes da Tiazinha de BH. A imagem de Itamar, a chacota simplista com que a mídia lhe trata, tendem a proteger a figura asséptica que, não se sabe como, Fernando Henrique mantém.

Para fechar o desfile de carnaval, Fernando aparece com o coringa do Banco Central: Armínio Fraga. Olha, é de uma ousadia federal trazer um empregado da raposa internacional George Soros para tomar conta do nosso galinheiro. Entende-se que alguém destine sua carreira profissional a fazer dinheiro, a trabalhar no limite da legalidade, jogando contra os interesses e as fraquezas da economia de um país. Mas é constrangedor assistir o presidente ter o topete (e ainda falam do penteado do Itamar) de indicar este indivíduo para controlar o Banco Central. Havemos de convir que a melhor proposta da semana veio do senador Roberto Freire, de Pernambuco, pedindo para devolver a indicação ao presidente alegando que Armínio Fraga "não tem reputação ilibada". Reputação ele tem, mas ilibada, só o ingênuo do ACM para acreditar.

-Tirésias a Silva-

 
 

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26fevereiro1999
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